ØRGIA: Johnny Hooker se mistura do físico ao instrumental em novo disco

 ØRGIA: Johnny Hooker se mistura do físico ao instrumental em novo disco

Foto: Carlos Salles

O pernambucano Johnny Hooker mais uma vez faz a apoteose artística pulsar, e dessa vez é com o lançamento do álbum ØRGIA.

Ao se inspirar na obra literária “Orgia – Diários de Tulio Carella”, do dramaturgo e roteirista argentino Tulio Carella, cuja narrativa acontece em Recife, no ano de 1960, com uma série de peripécias sexuais pelas ruas e cabarés da capital pernambucana. Até a data fatídica da ditadura, onde Carella é preso e exilado de volta para o seu país natal.

Assim como o livro homônimo do escritor argentino, o álbum busca desenhar a narrativa de um tempo onde a perseguição das minorias tem um novo momento de frisson no país, especialmente em um momento onde a realidade brasileira traz à tona um movimento favorável à ditadura. E é justamente nesse ambiente em que Johnny Hooker se correlaciona à obra de Tulio Carella:  no decorrer de 13 faixas, o artista apresenta a história em três atos e um epílogo.

 

“Foram muitos anos e, no meio deles, tivemos uma pandemia, então muita coisa mudou. Eu trabalhei muito tempo neste novo álbum e agora estou feliz em finalmente lançar este trabalho. Acho que ele diz muito sobre a nossa era e os tempos que a gente vive atualmente no Brasil.” 

 

Terceiro disco de estúdio de Hooker, o disco começa pelas faixas “Amante de Aluguel” e “Nos Braços de Um Estranho”, que têm o êxtase da noite e sua carnalidade pulsante. Seguido por “Cuba” e “Maré”, o álbum cria uma espécie de delírio tropical de fuga e, finalmente, chegando aos tempos apocalípticos que se desenham diante dos olhos, estão as faixas “Eu Te Desafio a Me Amar” e “Estandarte”. O epílogo conta com uma versão em espanhol da já clássica “Volta”, agora “Vuelve”, adaptada por Julia Konrad. Em entrevista exclusiva para o Mais Brasil, Johnny especifica o peso do trabalho e da representatividade LGBTQIAP+ no Brasil.

 

“Tem muita gente talentosíssima nesse país que precisa de investimento e visibilidade. Se tivéssemos mais mais incentivo, a gente teria mais facilidade em ocupar outros espaços. A gente brilha porque trabalhamos e suamos muito pra fazer dar certo. Temos artistas incríveis por aqui com pouquíssima visibilidade no mercado e na mídia porque não tem investimento nenhum. Por que não escrever um disco que seja também o diário de um período em que o futuro está sequestrado, em que o corpo e o desejo se apresentam como uma forma poderosa de resistir?”

 

Segundo Hooker, ‘’ØRGIA’’ é um “talvez disco de despedida”, que passeia por toda a heterogeneidade musical da sua discografia. Uma verdadeira miscelânea de ritmos em busca do reencontro com o carnal e com a vontade de viver, um retrato de um tempo em que o futuro é uma imensa e irrevogável incógnita.

“O que a gente vive agora é um cenário quase de desesperança. Meu desabafo foi porque chegamos em um momento em que não vejo saída. Eu trabalho com música há anos e tive diversos trabalhos reconhecidos, mas considero um milagre. Foi tudo “na unha”. Muito trabalho e muito esforço, não só meu mas de todas as pessoas envolvidas em cada processo. São pessoas que estão ali porque acreditam muito na qualidade e no propósito do que a gente faz e é por isso que eu ainda estou aqui. Especialmente ao vivo, estou ansioso pra compartilhar esse trabalho. O show é o momento de curtir os resultados de toda a produção do álbum com o público e sentir tudo isso com ele. Eu amo estar no palco e ter essa oportunidade de extravasar e cantar junto com os meus.”

A produção do disco foi realizada durante os últimos quatro anos e tem produção assinada por Arthur Marques, DJ Thai, Felipe Puperi, João Inácio da Silva, Barro e Guilherme Assis. Nas letras, alternam composições do próprio Hooker e outras escritas especificamente para o disco, como “Maré”, de Juliano Holanda, em que o cantor divide os vocais com o capixaba Silva, e “Nossa Senhora da Encruzilhada”, escrita por Filipe Catto. Além disso, o álbum também conta com participações especiais de Jader e Chameleo nas faixas ‘’Larga Esse Boy’’ e “NHAC!”, respectivamente. A identidade visual, componente fundamental para a essência do disco, tem crédito de Filipe Catto, o fotógrafo Carlos Salles e o multiartista Alma Negrot.

 

Ouça o álbum na íntegra no link abaixo:

Anaju Tolentino

Leia mais