Entrevista: Gabriel O Pensador vai distribuir Antídoto Pra Todo Tipo de Veneno

 Entrevista: Gabriel O Pensador vai distribuir Antídoto Pra Todo Tipo de Veneno

Foto: Steff Lima

A fórmula você descobre com o +BR nessa conversa…

Embaixador da legalização do pensamento crítico e da liberação das diferentes formas de ver o mundo, Gabriel O Pensador está de volta com um novo álbum. “Antídoto Para Todo Tipo de Veneno” chega após 11 anos lançando apenas singles e se aventurando por outras áreas, como a literatura infantil. Com composições que começaram em 2020 e ganharam reforço de Sant, Armandinho, Helio Bentes (Ponto de Equilíbrio), Black Alien e o havaiano Makua Rothman. E claro, Lulu Santos e Xamã que reacenderam o “Cachimbo da Paz” abrindo caminho para o lançamento.

Pra manipular as substâncias da produção musical O Pensador chamou Papatinho, DJ Caique, André Gomes, Sam The Kid e Dree Beatmaker, dando vida a um trabalho plural de significados e sonoridades. Representando a velha escola e garantindo renovação. No trampo, Pensador explora outras vertentes do rap, elementos de trap, reggae e acumula influências.

O laboratório para esse experimento foi o Estúdio Malibu, Keviin foi o cientista parceiro na elaboração da fórmula. A esposa Gabi Vicente também teve influência no álbum. O Pensador conta que os conselhos dela, que é mais jovem, foram essenciais para conduzir e finalizar o trabalho.

“Esse disco teve o seu tempo. Não fiz por obrigação, ou por um show novo, ou por contrato com gravadora. Ele vem no tempo da arte, no tempo da necessidade de expressar. Aí a gente é muito detalhista, caprichoso. Mexe, muda um detalhe, a mudança de uma frase que leva a gravar toda a voz de novo… e assim vai…”

Pensador tomou a primeira dose do Antídoto e revelou que “no fundo, no fundo” é pra ele. “É pra desabafar, jogar pra fora”, comentou.

“A gente se envenena muito com nossa mente, sentimentos negativos, ansiedade, angústias. Uma vez fiz até um vídeo que viralizou. Eu tava com uma dor no peito de tanto ódio, de tanta coisa, até mesmo por questões familiares. Por questões que até hoje, volta e meia, literalmente me dão uma dor no peito. Nós temos que buscar antídotos, seja no esporte, no amor, na amizade, uma garrafada, um cigarrinho, o que for.”

“Profecia” abre o álbum misturando futurismo e nostalgia e não premedita nada, ao contrário, conta o que o Rap brasileiro já cumpriu. Na sequência, O Pensador reencontra Lulu Santos na brisa e convida Xamã pra continuar a história do cacique. A escolha do terceiro elemento foi por sua “pegada muito forte no rap e no boombap” e por carregar o “freestyle e a raiz”, como define o próprio Pensador. Além de cobrar mais uma vez a redução da passagem, Xamã estreou uma nova palavra em suas composições: “parente”, pronome de tratamento entre os povos originários. O rapper tem se aproximado da ancestralidade em busca de suas origens.

Em “Boca Seca”, Sant encaixa com perfeição suas rimas às de Pensador. “Ele trouxe o tom ideal, na mesma pegada de intensidade e interpretação da letra. O beat do Dree é muito forte e Sant vem com toda personalidade”. Completa falando da complexidade impressa no trabalho “É até difícil descrever qual o tema da música, saio mandando um monte de desabafos e reflexões”.

Entre a intensa e autobiográfica “Ultimamente” e “Do Nada”, groovada e existencialista, os demais convidados são escalados.

+BR: E o que há de diferente em cada feat?!

“Nunca Tenha Medo” com Black Alien

G.O.P.: Demorou 30 anos pra gente fazer algo juntos. Somos da mesma geração do rap, nos encontramos nos palcos, mas não gravamos, até agora. A gente vem falar de uma questão importante que é enfrentar os medos. A pandemia trouxe à tona essa discussão sobre os problemas psicológicos, mas é um problema da humanidade desde sempre. E agora vivemos nessa era da imagem, tudo mais falso, as pessoas tem que se mostrar felizes, tem que se mostrar bem.  O medo passa por isso também. Essa música fala de coragem e desenvolve para a busca de sonhos, ideais, a volta por cima. O clipe e as pessoas que o compõe representam muito bem o que eu quero dizer.

“Liberdade” com Armandinho

G.O.P.: Armandinho me pegou pelo refrão desde a primeira vez que ouvi. É um mantra. Quando encontrei [a música] tinha uma direção de melodia, mas com frases soltas. Eu ouvi muito e já estava gostando da música antes de ter letra. Gosto muito de encontrar Armandinho. Essa música foi mais um motivo pra estar junto com ele.

“Burn Babylon” com Helio Bentes

G.O.P.: Tenho grande admiração pelo Helio , já gravamos juntos no Ponto e falando com Papatinho enquanto produzíamos a faixa a voz dele veio, era o toque que faltava pra esse refrão somando ao chamado de queimar toda hipocrisia.

“Obrigado Mar por Isso Tudo” com Makua Rothman

G.O.P.: Makua é um surfista havaiano que faz reggae. Conheci num festival em São Paulo e ele acabou dando uma canja no meu show. Era uma música do Bob Marley. Quando fui no Havaí nos encontramos e a faixa, que já estava sendo produzida pelo André Gomes, se encaixou, surgiu com verdade, naturalmente. Produzimos num estúdio em Honolulu. Foi legal trazer um cara do surf pra falar do mar. Fizemos imagens, pode vir um vídeo aí…

O álbum fecha com “Firme e Forte”, “Giro” e “Topo do Mundo/Fundo do Poço” no estilo inconfundível do autor que ama desenhar narrativas na nossa mente e educou toda uma geração de rimadores de metrôs e batalhas.

+BR: E afinal, qual é o Antídoto? Ou, “os” antídotos?!

“A música é muito recomendável. A música, a poesia, a literatura, o cinema. A arte é um antídoto. Espero que esse álbum contribua com isso. Uma das coisas que mais me motivam é ouvir histórias de, como de alguma forma, parte do que eu faço ajuda na vida de alguém. Pessoas também podem ser antídotos.”

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Felipe Qualquer

https://escutaqueebom.com

Comunicador, curador e podcaster na @escutaqueebom; No rádio desde moleque, está no ar na Rádio Cultura de Brasília; pesquisa o universo da música e escuta de tudo. Foi Head de Estratégia da Music2Mynd e Diretor de Comunicação do S.O.M, canal de música da Mídia Ninja. Em MG atuou nas rádios Minas, Nova e 94FM. Em Brasília passou por MIX FM, Transamérica e Rede Clube. Escreveu para os jornais Gazeta do Oeste e O Popular e Revista ShowBar. Produtor cultural desde 2010 com trabalhos no festival EcoMusic, Rua do Rock, Usina de Rima, Grito Rock, Festa Nacional da Cerveja, Toma Rock, Transamérica Convida, No Setor e Cervejaria Criolina. Estudou Comunicação e Teoria, Crítica e História da Arte na UnB.

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