Mais Brasil nos Festivais: Brasília levantou poeira por demais no Festival CoMA
Fotos por Icaro JPG
Dispenso todo o viés jornalístico pra tentar dissecar ao menos o que foi o Festival CoMA. O primeiro final de semana de agosto em Brasília teve um clima diferente, apesar do clássico combo umidade baixa e temperaturas altas que permeiam esses meses na capital.
Como um timing certeiro, sem a menor possibilidade de chuvas que possam consequentemente atrapalhar o rolê, o evento presencial, por fim, aconteceu. Com a premissa de “Consciência, Música e Arte”, o festival contou com conferências, no Espaço Cultural do Renato Russo, e no final de semana, o Eixo Cultural Ibero-Americano (antiga Funarte) foi ocupado com muito barulho. E dos bons.
Dentre os 5 motivos que divulgamos aqui, o CoMA correspondeu às expectativas das apresentações, mesmo com horários um tanto confusos. Muito dessas mudanças foram decorrentes do cancelamento do show do duo rapper Tasha e Tracie, o que deixou uma parte do público confusa e um tanto frustrada.
A conferência e os showcases foram essenciais, como um aquecimento para a intensidade que seria o final de semana. No sábado e domingo, o evento se dividiu em 5 palcos – 2 principais e 3 secundários, com experiências diferentes.
Os palcos tradicionais, intitulados como Norte e Sul, tal qual as “asas” do Plano Piloto, tiveram atrações alternadas. Enquanto isso, o festival trouxe a tenda Conexões em um novo local, e os já conhecidos shows no Clube do Choro e no Planetário.
Em ambos os dias, os trabalhos terminaram no palco Sul, e a energia era intensa a cada atração. Você pode conferir abaixo a cobertura de tudo o que rolou, além dos nossos registros que estão nos destaques do @maisbrasil.
Dia 1
No sábado, Maglore retornou ao festival com todo o pique acumulado, especialmente depois do problemas técnicos que aconteceram em 2018. Em seguida, Anna Moura deu o pontapé inicial do palco Sul com um clima cativante e já aquecia o público para a artista canadense Ammoye – que já havia se apresentado no showcase –, onde conquistou o público presente com carisma e um soundsystem muito bem feito.
Ao anoitecer, os brasilienses Pedro Alex e Bell Lins fizeram uma parceria impecável ao vivo, seguidos por MC Marechal com muita poesia. À medida que a noite esfriava, as atrações vieram quentes: Urias, Gaby Amarantos e Don L lotaram os palcos Sul e Norte com muita potência e discursos fervorosos. Era sinal do que estava por vir: a poeira lá no alto no show de ÀTTØØXXÁ e Carlinhos Brown. A última apresentação do palcos principais, DJ Glau Tavares manteve o gás com um set impecável, do funk ao reggaeton.
A tenda Conexões cumpriu com sua nova proposta, trouxe apresentações diversas, como Jota.pê, a ótima banda Menores Atos, Luísa e os Alquimistas e os surpreendentes Kel e o duo Margaridas, com muita coreografia envolvida e presença. Enquanto isso, a música de Brasília vinham dominando os outros locais. Sellva deu início às atividades do Planetário, seguida pelos shows de Lubardino e Puta Romântica, além da banda argentina Viento de Oriente.
O destaque da noite, entretanto, foram dois shows no Clube do Choro, com direito a casa cheia. O duo brasiliense ‘Akhi Huna e Vitor Ramil mostraram em suas apresentações, que, mesmo sendo de gerações distintas, a música ainda é o idioma que todo mundo entende e absorve. A noite fechou de fato com um DJ set do coletivo Filhos de Guetta, com direito a cortejo para a área externa do festival, justamente para contemplar o público fiel dos anos 2000.
Dia 2
O domingo começou com a galera de Brasília fazendo o nome. A banda Remobília, a ex-Móveis Coloniais de Acaju, já botou todo mundo pra pular, deixando o clima mais quente do que já estava. Como primeiro show da banda, o quinteto retomou as energias de mais de 20 anos de carreira e mostrou o porquê de ainda terem a essência intensa do Móveis dentro de si.
Depois deles, os curitibanos da Jovem Dionísio apresentou diversas faixas do disco mais recente, enquanto a plateia entoava o coro alto e em bom som todas as músicas, sem exceção. O mais especial foi quando os filhos da equipe do festival apareceram no palco e embalaram o hit “Acorda, Pedrinho”.
O pique do público continuou com o ótimo show do duo de rap Puro Suco, que fez do seu momento palco para muito barulho e dedo na ferida. Na sequência, o brasiliense Jean Tassy fez valer a pena estar ali, com geral cantando e uma presença incrível de quem de fato estava em casa. Assim como Rico Dalasam que, na sequência, retorna aos palcos de Brasília – exatos 5 anos depois, no mesmo lugar e horário – e mostrou que era de fato um dos mais aguardados do festival. Algumas estreias aconteceram, tanto no festival quanto em Brasília, como Bala Desejo e Lamparina, que deixaram a galera animada até o final.
Nos palcos alternativos, vimos àvuà e Martinha do Coco se apresentarem no Clube do Choro, seguida pela ótima Orquestra Quadrafônica. No Planetário, a experiência imersa na cúpula começou com Flor Furacão, e em seguida com o excelente trio Bolhazul. A noite fechou por lá com a DJ Paula Torelly e a saxofonista Pina.
A tenda Conexões, nesse dia, deu espaço para os artistas gringos, além dos cariocas da banda Braza, que incendiou o palco. Chegando na reta final do festival, Gal Costa mostrou por que é – e sempre será – uma artista reverenciada. O ícone da música brasileira deu uma aula de repertório, agradando todo mundo que tava ali, e provou o quanto é divina e maravilhosa.
Falando em catarse, os guerreiros da madrugada de Brasília, o coletivo Samba Urgente, fecharam com chave de ouro a quinta edição do CoMA. Junto com a icônica Leci Brandão, provaram de fato que o coletivo se faz gigante nesse espaço. Tanto em mensagem quanto em energia, esse show resumiu o sentimento de quem esteve no festival: apoteótico e representativo.
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Ballroom
Era impossível não fazer destaque à comunidade Ballroom e as batalhas de vogue que aconteceram nos dois dias de CoMAd. Coletivos de representatividade no meio LGBTQIAPN+, a organização entre dançarines e júri do Satélite Kiki Ball foi impecável. Além de enaltecer essa cultura e close dentro do festival, o mais interessante é ser observado por pessoas que não presenciariam isso em outras circunstâncias.
Em um tempo onde muito se vive a vida online, entre metaversos e transmissões, os encontros de cara-a-cara são mais que essenciais. E a quinta edição do Festival COMA soube bem como equilibrar isso.