Engenheiros do Havaii e a obra prima do rock gaúcho
De cara, já peço licença para toda a nação gaúcha e mando um “desculpe qualquer coisa” por esse texto. É porque sempre acho complicado um paulistano escrever, em tons didáticos, sobre qualquer obra que pertença à gaveta do “rock gaúcho”. Por mais que a gente ouça, entenda e se identifique com alguns aspectos, um gaúcho sempre vai ter algo a mais para dizer sobre Engenheiros do Hawaii. Até porque a banda passou pelo seu processo de djavanização, em que parte de suas letras viraram piada entre críticos do eixo Rio-São Paulo e isso se tornou uma lenda urbana. Dizem que as letras do EngHaw são complicadas, complexas. O Papa É Pop, pelo menos, não. Ali é tudo limpo e claro.
Esse disco é a ruptura que faltava para o rock gaúcho. De um estilo hermético e regional, a banda conseguiu modificar a sua sonoridade e ganhar o país – a certificação oficial da gravadora dá conta de mais de 500 mil discos vendidos na época. E, de fato, em qualquer garimpada mais cuidadosa nos SEBOs de grandes centros, se acha um exemplar de O Papa É Pop.
O começo do disco lembra The Wall e o lance com “Another Brick in The Wall”, com “O Exército de um Homem Só” dividida em duas partes e, no meio, “Era Um Garoto, Que Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones”, clássico da música italiana trazido para o Brasil nos anos 1960 com Os Incríveis. “Pra Ser Sincero” e a faixa-título também se tornaram singles de sucesso, fazendo com que os Engenheiros invadissem as programações das rádios pop e rock – num tempo em que a segmentação levava o gênero musical em conta. Tinha músicas mais “pesadas” pras rádios rock, mas também baladas para as pop.
A última faixa, “Perfeita Simetria”, usa a mesma música de “O Papa É Pop” para cantar outra letra. A música está presente apenas na versão em CD e na versão que chegou às plataformas de streaming. O vinil e a fita cassete terminam na faixa 10, “Ilusão de Ótica”.
Não sei se essa frase é fácil para um gaúcho dizer, mas, talvez, O Papa É Pop seja a obra mais completa da discografia dos Engenheiros, que tem seus outros hits mais espalhados por outros trabalhos. Aqui, a banda conquistou as rádios – que, nessa época, eram primordiais.
Engenheiros do Hawaii – O Papa É Pop – 1990
- O Exército De Um Homem Só, I
- Era um Garoto, Que Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones
- O Exército De Um Homem Só, II
- Nunca Mais Poder
- Pra Ser Sincero
- Olhos Iguais Aos Seus
- O Papa é Pop
- A Violencia Travestida Faz Seu Trottoir (com Patrícia Marx)
- Anoiteceu Em Porto Alegre
- Ilusão De Ótica
- Perfeita Simetria
- Não Pulo Uma Faixa é um site cofundado pelo jornalista Marcos Lauro e que se dedica a falar sobre discos perfeitos, daqueles que ouvimos por inteiro. Semanalmente, ocupará esse espaço no Portal Mais Brasil com discos brasileiros que marcaram época.