saudade: “bem vindo, amanhecer” é um sopro de esperança em meio ao caos

 saudade: “bem vindo, amanhecer” é um sopro de esperança em meio ao caos

Foto: Camila Sanchez

Clarice Lispector entoou por aí que um simples “i miss you” ou independente da tradução de qualquer outro idioma, nunca terá a mesma força e significado da palavra saudade.

Ao levar em si a carga emocional dessa palavra, Saulo von Seehausen segue com o projeto de mesmo nome e resgata suas raízes sonoras com o novo trabalho, intitulado bem vindo, amanhecer.

O álbum traz a solidez que foi o disco de estreia, jardim entre os ouvidos, mas aborda uma perspectiva mais solar e esperançosa. Contudo, esse sentimento singular toma um segundo plano ao dar espaço para letras mais inspiradoras, melodias mais exploradas e cheia de boas referências. Apesar de ser produzido no pico da pandemia, o álbum é carregado de mensagens animadoras, especialmente sobre a celebração do fim de uma noite muito boa.

“O primeiro disco foi feito sobre uma coisa que eu tava vivendo, um processo de separação. Foi muita introspecção, reflexão e tristeza. Agora, o ‘bem vindo, amanhecer’ é um disco sobre a vontade de viver. E as músicas saíram disso, dos encontros, dos retornos e uma ânsia de chamar um momento novo e algo maior. Especialmente sobre a esperança, ela tem que estar sempre aqui, se não a vida não tem o menor sentido.”

O contexto da pandemia afligiu diretamente a produção, ainda mais devido a uma mudança de rotina. Acordar cedo, ler um livro, fazer uma caminhada, tudo isso ao som de Maria Fumaça, álbum da banda Black Rio. Segundo Saulo, essa foi a fórmula que de fato o inspirasse a fazer o compilado musical de boas referências que o disco se tornou. 

HISTÓRICO MUSICAL

Além das influências familiares e da rotina pandêmica, as dez faixas também trazem uma experiência sonora que mescla o som setentista do soul brasileiro em uma abordagem e sonoridade atuais, oferecendo o frescor de um novo olhar para a MPB.

De Jorge Ben Jor a Tim Maia em arranjos inspirados por Lincoln Olivetti, o projeto do músico carioca agrega uma proposta de coletividade. Com participações de Lio (Tuyo), Lorena Chaves, Bibi Caetano, Rebeca Sauwen e Nina Oliveira, o álbum ganhou novas camadas graças às perspectivas de todos os envolvidos na produção dele. 

“Quando pensei no disco, queria que tivesse banda. O primeiro fiz meio que sozinho, e agora foi mais no coletivo, queria que fosse tocado ao vivo. E aí, no mesmo dia em que nos encontramos, fizemos o disco inteiro. E compus muitas delas pensando na participação também, mas nada específico. Quando começaram as gravações, eu queria que todas as participações fossem femininas, exatamente para soar como uma conversa. E os nomes vieram de forma bem natural, eu sou fã de todas elas e, por sorte, acabou rolando.”

Com produção do próprio Saulo, junto com Pedro Serapicos e Felipe Vassão, saudade “completa essa narrativa ao mesmo tempo nostálgico e ansioso pelo caminho a seguir”, especialmente quando envolve um ecossistema de artistas que agregam diretamente o trabalho final. Dito isso, a arte da capa, com ilustração de Vinicius Massolar, teve o objetivo em retratar todas as pessoas que fizeram parte do álbum. Afinal, o que seria da vida e dessas dez faixas se não resultassem dos encontros, né?

A pluralidade envolvida faz parte de sua intenção de unir musicalmente toda sua bagagem vasta. Desde a banda Hover, o artista se joga em seus projetos de forma honesta e concisa. Com saudade não é diferente, o segundo álbum amplia seus horizontes, fazendo uma fusão incrível entre gêneros mais explorados sonoramente e outros com mais suingue. Ouça na íntegra:

Anaju Tolentino

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