10 anos de coletividade e força se mantém firme em mais uma edição do PicniK Festival
O silêncio após dois anos de interrupção sonora foi preenchida com muito som em Brasília. E dos bons.
No último final de semana de junho, aconteceu o PicniK Festival, um dos eventos mais queridinhos da cidade, como divulgamos aqui.
A praça Portugal, no Setor de Embaixadas, foi o novo cenário para esse evento acontecer. Com uma logística bem distribuída, o espaço foi organizado para que os dois palcos – principal e o famigerado magic bus – não “colidissem” sonoramente. A divisória de ambos foi preenchida com o clássico mercado criativo, no qual é a maior proposta do festival: movimentar o Mercadinho de arte, moda e design, e a Praça de Alimentação.
A demanda de público foi limitada em comparação às outras edições. Com uma fila enorme para a entrada, isso foi um cartão de visita para as tantas outras dentro do evento. As esperas também aconteceram no decorrer das apresentações, com atrasos que, consequentemente, complicou a performance de algumas bandas.
Contud0, o lineup foi capaz de equilibrar democraticamente os artistas locais e nacionais.
No palco principal, festival começou com o artista brasiliense Pedro Alex e na sequência com Anelis Assumpção e Curumin dividindo o palco. Na sequência, Dessa Ferreira, com o produtor Ìdòwú Akínrúlí, trouxe boas energias em palco e dando uma boa amostra do que poderia esperar dali pra frente. Já as artistas Luedji Luna e Karina Buhr, com apoio das suas bandas espetaculares, e a banda Academia da Berlinda, agradaram quem esteve presente na noite de sábado.
O segundo dia deu início ao show da banda Aguaceiro, marcando seu retorno aos palcos da cidade e com nova formação. Logo após começou a apresentação da banda Pato Fu, com o especial Música de Brinquedo, embalando a tarde das crianças que estavam presentes ali. Além desse show, a banda mineira também lançou a dobradinha para os fãs no after que aconteceu na Infinu, QG do festival. Em entrevista para o Mais Brasil, Fernanda Takai e Cia enalteceram a experiência do retorno.
“Não é muito comum fazer os dois shows, tentar lembrar o repertório é um desafio grande pra gente e na mesma cidade é mais raro ainda. Nunca fizemos isso, ainda mais dentro de um festival, onde tem cruzamento de público… as duas ocasiões foram ótimas! E a ideia do música de brinquedo sempre foi colocar linguagens universais, como o som de brinquedo que é encantador e um repertório pop. Mas no fim das contas, é uma leitura múltipla, pra todas as idades e com várias camadas de satisfação, eu diria!”
Para provar o line-up de peso desta edição, a banda Bike começou a noite com um show denso e mostrou o porquê de ser queridinha dos organizadores do festival, assim como o duo brasiliense Akhi Huna. Mas os maiores destaques da noite ainda de fato estavam por vir.
A banda Medicine Singers, formada como uma ramificação colaborativa de música indígena americana tradicional e contemporânea, reuniu um time absurdo em sua apresentação. Yonatan Gat, Lee Ranaldo (Sonic Youth), Ava Rocha e Ynaiã Bertholdo (baterista do Boogarins). Juntou-se a eles o rapper indígena Owerá e Camila Retê, e outra rapper indígena de destaque nacional, Brisa Flow, para dividir com Ava, e Ian Wapichana, rapper de Roraima e esposo de Brisa Flow. O palco tornou-se uma potência sonora e de discursos em prol dos povos indígenas.
Por fim, a frontwoman Letrux fechou o Picnik em forma de um ritual hipnotizante e trouxe um dos melhores shows de todo o festival. Mesmo com horas de atraso, a artista foi o suficiente para muita gente permanecer na Praça Portugal na madrugada de domingo para segunda.
Magic Bus
A aposta das últimas edições foi o ônibus adaptado para ser um palco, conhecido como Magic Bus. A maior parte da programação foram as bandas locais, como as figurinhas carimbadas Oxy, Maria e o Vento e Aurora Vênus, mas quem ganhou o destaque de um show catártico foi o duo de rap Puro Suco. Além de ser o único destaque do gênero no festival, o público também mostrou o porquê foi merecido deles estarem no lineup.
Contudo, o mais importante da noite no palco foi Rogério Skylab. Com uma certa raridade de fazer shows, o público sentia essa ânsia de vê-lo ao vivo, e, mesmo com atraso e o sistema de som que não favorecesse quem estava longe, o show foi como o esperado: pitoresco e totalmente contra os princípios da família brasileira. Até injusto terem escalado Skylab para essa estrutura, mas as razões eram óbvias.
Mesmo com a retomada e ainda aquela sensação de “limbo” de uma liberdade pós isolamento social, o festival segue firme nas suas ressalvas. Qualquer pessoa que aparecesse na Praça Portugal seria contaminada pela potência do evento, que enalteceu firmemente a diversidade de sons, público, artes e o empreendedorismo, de modo que possa ser modelo de economia criativa para outros festivais, ao ocupar a cidade com respeito ao próximo e boas ideias a serem praticadas.