Os novos nomes da Black Music brasileira que estão dominando a cena
Escute os expoentes da música preta nacional
Certa vez o cantor Hyldon relatou ao jornal Estado de Minas “Os bailes dos anos 1960 e 1970 foram um ensaio do empoderamento negro”. Junto de Tim Maia, Cassiano, Sandra de Sá e grandes nomes, fundaram no país um movimento que nunca esteve tão forte, estruturado e com musculatura para enfrentar o mainstream, como nos dias de hoje.
Embora sob tentativas constantes de apagamento, de mistura e generalização para que se ignore suas identidades, o movimento permanece firme e gerando novos artistas. Cantoras, duos, trios, grupos e toda pluralidade que se encontra nas prateleiras, ou nos dias de hoje, nas playlists, sob o título de Black Music, mas que tem nomes próprios, estéticas e sonoridades muito bem definidas. Eu tô falando do R&B, do Soul, do NeoSoul e de suas variações, seja em Funk, Blues, Jazz ou tudo junto. E não é pra limitar, Yoùn mesmo se aventuram até no “trap bossa” se for preciso. Quantas não são aos cantores que transitam entre o R&B e o Rap?
Os ensaios de 50 anos atrás viraram espetáculos que tomaram festivais e lotaram estádios, mostrando não apenas a beleza, a alma, a riqueza e a potência da música preta, do swing e do alto nível de exigência estética e sonora, como todo o profissionalismo, grandiosidade e o lugar que sempre foi da música preta. Seja nos tempos áureos do Pagode ou a nova geração do Brega Funk.
É até difícil dizer o que não é Música Preta no Brasil. Mas aqui falo de uma nova geração – que vem sendo mencionada desde meados de 2015, 16 – que está cada vez mais consciente, praticando um movimento intencional de ataque no mercado, na indústria, na imprensa.
Fazendo do amor o mais poderoso míssil contra o racismo.
Não precisa esperar Bruno Mars ou The Weekend colar no Brasil pra parcelar seu ingresso em 24 vezes. Nos palcos das principais cidades e rodando os circuitos brasileiros, você vai encontrar uma infinidade de artistas f#%$.
Separamos algumas referências. Se não conhecia, até agora, nenhum desses nomes, a notícia é que você parou no tempo! Acerte o seu relógio:
YOÙN – Rio de Janeiro
Pra começar em grande estilo, compartilho a performance ao vivo desse duo carioca que é rei. Ainda! Do corre do metrô até o palco do finado Youtube Music no Brasil, foram alguns anos buscando formas de mostrar pro mundo o alto nível que produzem desde sempre. Nas inaugurais “Meu Grande Amor”, “Só Love” e “Nova York” mostraram logo pra que vieram. Um som de outro mundo que feito ao vivo te leva pra atmosferas etéreas. No show que assisti na Casa Natura Musical juro que era possível ver pessoas sendo curadas, se Shuna e GP decidem pedir testemunhos, não iam faltar.
BUDAH – Espírito Santo
Mencionada como promessa do Rap nacional a cantora, que começou nas Batalhas de Rimas, viaja pelo R&B e transita entre os estilos de forma majestosa. Com H.E.R e IAMDDB como grandes influências, Budah já gravou com nomes como Djonga, Cynthia Luz e Yunk Vino. Sua presença nos feats sempre garante um ar de sensualidade, mas com bastante firmeza. Sua voz grave flutua no ar te envolvendo num clima de conforto, mas ao mesmo tempo provocando.
HODARI – Distrito Federal
Com uma trajetória que começa no rock brasiliense da primeira década dos anos 2000, Hodari é representante de destaque da nova geração que evidencia o movimento negro na música brasileira contemporânea. E faz com muito, muito estilo. Sua presença por si só é impactante e quando bota sua criatividade pra funcionar, em suas próprias músicas ou composições – sim, ele tem trabalho até com Luisa Sonza – você conecta tudo. O primeiro álbum solo produzido por Douglas Moda é uma obra prima feita sob medida para o pop. Com Luedji Luna então, vou nem comentar, só clica e escuta que é bom!
OS GAROTIN – Rio de Janeiro
Leo Guima e Cupertino se juntaram ao Anxietx nesse projeto que já conquistou a bolha mais importante do eixo Rio – São Paulo e você está em tempo de falar que conheceu no início da carreira. Juntando de um jeito sagaz R&B, Samba, Funk e Soul, os dois EPs que já foram compartilhados por grandes referências da música brasileira, ganhando a chancela necessária para afagar a crítica, são – vou ter que repetir essa expressão – obras primas da arte preta brasileira contemporânea. Pode escolher qualquer uma que você não vai se arrepender.
BIVOLT – São Paulo
Uma das primeiras mulheres do Rap a pisar no Rock In Rio, Bivolt também usa e abusa do R&B em suas músicas. “Susuave”, “Anjo” e “Localiza” são bons exemplos entre suas obras. Suas participações são sempre marcantes, aproveito pra compartilhar a nova com Veigh, Negalli e o produtor que esteve lá no início da carreira, o Nave. Não deixe de escutar “Pimenta” com Glória Groove que tem o melhor mood da black music norte americana dos anos 2000 que tomaram as rádios jovens e a MTV.
Kynnie – Rio de Janeiro
Esse é mais um daqueles trovões que caem e mexem com tudo ao redor. Se você escutar Kynnie seus ouvidos vão pedir de novo, sem você nem perceber. Voz poderosa, interpretação impecável, todo um estilo impresso nas músicas que se aventuram até no Pop e no Funk Charme. Nessa parceria com Edi Rock ela entrega um trabalho digno de trilha sonora de cinema. Que te dá impressão de já ter ouvido antes, mas com elementos totalmente novos. Todo o trabalho dessa carioca merece nossa devoção.
DOUG O. – São Paulo
Agora chegou a hora que eu mais amo… Acabei de me tornar o inscrito 606 do Youtube do Doug O. e você também pode carimbar no seu passaporte de viagens musicais essa exclusividade. Uma aposta bem feita e que certamente performará nos próximos anos ocupando espaço no cenário nacional. E olha que os primeiros registros são de 2020! Acompanhar o crescimento e a evolução da musicalidade do Doug, como cantor e compositor, é emocionante. Tentativas mais e menos clássicas, mais e menos ousadas, mais e menos descoladas. Uma profusão de criatividade e música boa.
BEBÉ – São Paulo
O Mais Brasil revelou em primeira mão o que vem por aí no segundo álbum da cantora Bebé e ela promete ainda mais incursões nas influências da música preta. Não que já não seja a base de todo seu som, mas a proposta da paulista para o verão de 2024 é um trabalho ainda mais profundo e focado na cena e nos circuitos pretos nacionais. Leia a entrevista!
E claro que ainda poderíamos citar Wesley Camilo, Luccas Carlos, Alt Niss, Jean Tassy, Fabríccio, a própria Liniker, Tuyo, Majur, que também desenvolvem os estilos, gêneros, ritmos aqui mencionados em seus trabalhos. Mas paro por aqui e deixo com vocês a tarefa de aumentar ainda mais essa lista nos comentários, aqui no Portal e também em @maisbrasil nas mídias sociais. 🙂
1 Comment
Olá! Boa matéria! Mas, se possível, venha conhecer a Dinamite Combo, aqui em Curitiba. Música de primeira qualidade!!! Um abraço!