André Prando e Maca Mona Mu (Arg) rompem a fronteira e lançam “Universos Distintos”
Desenvolvida à distância durante a pandemia, canção ganhou clipe que promove o encontro e marca início e fim na memória
O projeto Latinese, iniciativa do mineiro Vinícius Castro, é responsável pela produção que conta com financiamento da Lei de Incentivo Cultural de Foz do Iguaçu/PR
Está no mundo a nova música de André Prando e Maca Mona Mu “Universos Distintos”. Brasileiro e argentina se encontraram para celebrar a volta ao normal após três anos de pandemia. Com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em aeroportos e aviões, cai a última barreira imposta. O isolamento e as medidas de proteção se foram, a imunização avançou, mas tudo isso deixou marcas definitivas em nossas vidas.
Há pouquíssimo tempo estávamos imersas num rio de incertezas e nada melhor que a Ponte da Fraternidade, em Foz do Iguaçu/PR, que liga os dois países, para marcar na memória o período mais difícil vivido por nossa geração. O acesso ficou fechado por um ano e meio, impedindo que brasileiros e argentinos atravessassem a fronteira.
A música foi composta durante o período de pandemia, tempo em que André e Maca se conheceram por mediação do Latinese. Depois virou clipe, com direção de Lara Sorbille e Vinícius Castro, que também escreveram o roteiro e atuaram na montagem e edição.
Gravado e produzido entre dezembro e março deste ano, o clipe representa os momentos de isolamento e distanciamento, as sombras da pandemia e a volta à rotina, sem esquecer, nem deixar esquecer, as milhares de vidas que perdemos.
As imagens foram captadas por Fernando Santana, Marcos Labanca e Cybèle Verazaín. As cenas foram gravadas no Teatro Barracão e na Ponte da Fraternidade na BR-469, patrimônio internacional que liga o Brasil ao resto do continente.
“A ideia é ecoar em dois países e tornar memorável um fenômeno que pouco a pouco se perde no imaginário coletivo! Pra ninguém esquecer, mas também para que seja uma página virada em nossa história, um ponto final num período que deixou tantas marcas”, afirma Vinícius Castro.
“Foi uma viagem muito inspiradora e emocionante, por nos conhecermos pessoalmente após trabalharmos tanto tempo virtualmente no projeto. Conhecer o André também foi diferente, uma vez que nos aproximamos no processo de compor a canção juntos. Vejo o Latinese como algo muito importante e valioso, pois gera pontes entre artistas e amplia visões unindo a criatividade de cada um. O projeto tem muito potencial e é revolucionário, vide a ausência do Brasil no contexto latino americano. Unificar artistas na produção de novas linguagens é importante no contexto político, social e cultural”, comenta Maca Mona Mu.
“UNIVERSOS DISTINTOS” CHEGA AO MUNDO NESTA QUARTA (15)
Tudo começou com o projeto Latinese, do bacharel em Letras, Artes e Mediação Cultural pela Unila, Vinícius Castro. Conectado à Mídia Ninja e outros canais nacionais, surge a ideia de unir artistas brasileiras a outros países do continente. A primeira foi entre Owerá – antes Kunumi – indígena Mbyá Guarani, que vive na aldeia Krukutu, na região de Parelheiros, São Paulo, com o colombiano e também cheio de identidade, Lozk.
O convite a André Prando e Maca Mona Mu veio em 2020. A partir de então, foram várias rodadas para a composição da letra e arranjos, tudo feito online. A última versão de “Universos Distintos” produzida em janeiro de 2023 passou por mixagem de Jackson Pinheiro e masterização de Igor Comerio.
Composta e cantada em Português e Espanhol, a música que tem violão, teclado e guitarra, muda cadência e idioma o tempo todo, com conceitos chave como “coração em movimento”, “corazón en movimiento”, reencontrando nos mesmos sentimentos que nos tomaram, resultado do “esperar um dia mais” dos tempos de isolamento.
“Durante a pandemia eu tinha a sensação de que nada seria como antes. E claro, nada está sendo como antes, tudo se transformou. Ninguém passou ileso. Infelizmente tivemos perdas de entes queridos, pessoas amadas. Mas até nós, sobreviventes desse caos, passamos por muitas transformações”, comenta Prando.
Agora, com a vacinação em estágio avançado no mundo inteiro, cai a última barreira herdada da pandemia, a Anvisa liberou no início do mês de março a obrigatoriedade de máscaras nos aeroportos.
“Eu não imaginei que a gente ia voltar a um cotidiano livre. Eu via aquela realidade de máscaras e confesso que passou pela minha cabeça que a gente nunca ia conseguir viver sem elas. E cá estamos retomando a vida, recomeçando as coisas. Essa música foi composta bem naquele momento de crise da pandemia. Então, poder produzir esse vídeo e processar todo aquele sentimento que tivemos na época… e poder se reencontrar agora, numa outra realidade, talvez seja sim um ponto final na pandemia, espero. O Covid ainda está por aí, outras variantes, mas a medicina está bem avançada e podendo conter, felizmente”, relata o cantor.
“Demarca um momento que a gente viveu muito forte, muito crítico, mesmo. Mas, num outro momento, num momento de retomada, de reflexão, de celebração da vida, de lembrar com respeito dos que se foram. O clipe mostra isso, o roteiro do Vini e da Lara tem uma visão muito sensível. De passar pela pela pandemia: da distância, da falta, da solidão e da reconexão, do recomeço, dos reencontros, atravessar fronteiras. O clipe trabalha muito bem esses símbolos”, completa.
Em dezembro o projeto do clipe foi aprovado pelo edital do Sistema Municipal de Cultura da Prefeitura de Foz do Iguaçu/Paraná e saiu do papel. A hora chegou e a música está em todos os streamings de áudio, o clipe no Youtube e distribuído em diferentes canais de educação e cultura no Brasil e na América do Sul.
O CLIPE
Desde a inscrição do projeto, Vinícius Castro e Lara Sorbille pensaram cada detalhe da produção audiovisual. O cenário feito com tecidos brancos, cria sombras que transmitem sensação de presença e ausência ao mesmo tempo.
André e Maca ocupam quartos diferentes, isolados e em seus próprios mundos e cosmovisões. Eles olham para seus espelhos, veem refletidas suas imagens solitárias, mas ao mesmo tempo se encontram na música. Tendo os violões como companhia, solam e fazem um dueto, destoam em seus idiomas, mas uníssonos pela canção.
As gravações no cenário montado no Teatro Barracão demoraram 15 horas divididas em duas diárias e envolveram 13 pessoas. Desde a cenografia assinada por Vinícius Castro e toda confeccionada em madeira por Leospa da marcenaria LSO, à produção executiva de Flávia Oliveira, o logger e assistente de fotografia Miguel Molina, até a logística com Enivaldo Dos Santos, motorista profissional responsável pelo deslocamento da equipe.
Chegou o dia de fechar a ponte novamente, mas desta vez, por apenas alguns minutos. A equipe montou o ponto de apoio e contou ainda com a Polícia Rodoviária Federal, que fiscalizou o trânsito durante toda a captação das imagens. Um drone sobrevoou a região e captou a natureza ao redor que torna a ponte ainda mais evidente, com suas funções sociais, econômicas e culturais. Foi a primeira vez em que a ponte foi explorada como cenário de videoclipe, principalmente valorizando seus aspectos e as possibilidades de encontro.
Durante as gravações as pessoas que passaram pelo local ficaram curiosas, pois de fato a Ponte da Fraternidade e sua travessia foram tão naturalizadas na região que não percebemos a magnitude que é atravessá-la. Essa simples ação de cruzar a ponte representa encontros, presenças, afetos e liberdade, privilégio que a pandemia nos tirou. Não é só uma ponte, é o encontro entre universos distintos e a possibilidade de nos refazermos com aquilo que ficou.
INSPIRAÇÃO
A música “Universos Distintos” transmite diferenças que se dissolvem em sentimentos comuns, no dia a dia restrito que nos cansou, provou nossa paciência e distribuiu incertezas, na espera pela cura, nas promessas que ainda não se confirmaram.
A Ponte como símbolo de conexão entre povos e culturas, é também exemplo prático da importância do encontro, das trocas, do trânsito e do mercado. O fechamento por período tão longo representou prejuízos em grande escala para todos. A Ponte enquanto caminho para o outro lado traz memórias, relembra viagens e as pessoas importantes que passaram.
A obra – canção e vídeo – é carregada de significados. É pra lembrar dos momentos em que o ambiente doméstico aprisionava e as ruas eram lugar de medo, o que causou um conjunto de sintomas. Mas de forma leve e desprendendo do que nos assombrou. É pra lembrar também das negações, das perdas irreparáveis, de quem nunca imaginamos nos deixar. Mas com o consolo necessário para a dor virar saudade e memória.
Essa é a primeira vez que André Prando compõe em espanhol [e] com uma artista internacional
Referência na cena musical do Espírito Santo, conquistou o Brasil e já tocou no Rock in Rio
Dono de voz e performance viscerais, com timbre único que nos transporta para outras dimensões, Prando ganha espaço no cenário nacional independente à medida que entrega um repertório autoral cheio de trilhas sonoras para a vida. Seja estimulando pensamentos críticos ou repetindo mantras, a obra de Prando te acompanha da sua residência que entram sem limpar o pé até o transe, sem esquecer das frivolidades da vida, como os brothers e amigas vagabundas que reunimos.
Prando é Música Psicodélica Brasileira
Prando, em seu mais de 10 anos de carreira, já cantou fantasmas outra vez, mas jamais imaginou que seriam tão perturbadores como os dos últimos anos. Se tudo que é posse passa, ele solta sua obra no mundo, esperando que chegue nos destinos mais imprevistos.
Também cantou, entre singles e feats, “Calmas Canções do Apocalipse” (2020) submerso na pandemia, um conjuntinho de três canções extremamente apropriadas. Além deste EP já lançou “Vão” (2014) e os álbuns “Estranho Sutil” (2015) e “Voador” (2018), que ganharam versões ao vivo.
Falando em ao vivo, é essa a predominância da agenda de Prando, que é disputado no litoral capixaba para garantir a noite. Mas ele também já passou pelos palcos do Circo Voador (RJ), Virada SP (SP), Baú do Raul (RJ), Prata da Casa – Sesc Pompéia (SP), Psicodália (SC), MADA (RN), DoSol (RN), Se Rasgum (PA), FEBRE (SP), Feira Noise (BA), Morrostock (RS), Sesc Belenzinho (SP), Sesc Sorocaba (SP), Showlivre (SP) e outros carimbos que já o fizeram trocar de passaporte mais de uma vez. Os mais recentes são argentinos e uruguaios. De Foz, Prando passou por Buenos Aires, Colônia Del Sacramento, Montevideu e Cabo Polônio.
“Já participei de outros projetos internacionais, mas essa é a primeira vez que arrisquei compor. É a primeira vez também que componho em Espanhol. É a primeira vez que saio do Brasil. Durante a turnê tive o desafio e a experiência de tentar aprender o idioma pela primeira vez. Foram semanas me jogando e aprendendo na prática a falar um pouco do “portunhol”, que é um fenômeno muito bonito de aceitação e abraços das diferentes culturas. Tô aí, com um “portunhol” fluente”, comenta André Prando.
“É um marco muito legal, esse negócio da troca internacional para a carreira do artista. Eu sou um artista que trabalha álbuns. Tenho dois eps, dois álbuns de estúdio e dois ao vivo. Nesse ano de 2023 vou lançar mais um álbum de estúdio, o “Iririu”. E enquanto ele não sai tenho lançado singles, projetos paralelos, participações em trabalhos de outros artistas. E esse trabalho é mais um que compõe essa trajetória entre um álbum e outro”, anunciando o próximo lançamento de peso.
“Tô feliz de começar o ano com um projeto de relevância. Foi uma conexão muito importante que o Latinese fez não só entre Maca e eu. No meu caso, abriu portas e deixou uma vontade sedenta de explorar a América Latina. Nessa primeira vez que saio do Brasil, fico muito feliz de começar pela América Latina, com os hermanos. Fiz amizades e conexões profissionais, afetivas, muito lindas por onde passei”, completa.
Maca Mona Mu é expoente na música argentina
Voz, performance e sonoridade são evolventes e provocantes
MACA MONA MU (Buenos Aires, 1988) é cantora, compositora e multi-instrumentista. Vencedora da Bienal de Arte Juvenil 2019 da Cidade de Buenos Aires. Seu álbum “Kalanchoe” foi indicado ao Prêmio Gardel como Melhor Álbum Pop Alternativo.
Desde seu primeiro álbum solo em 2013 ela tem se apresentado em importantes espaços da região como CCK – Centro Cultural Kirchner, Centro Cultural Recoleta, Sala Zitarrosa (UY), Auditório Sodre (UY), Espaço Xirgu UNTREF, CC Konex, entre outros. Além disso, já dividiu o palco com artistas como Hilda Lizarazu, Fabiana Cantilo, Fernando Cabrera, Luciana Jury, El Kuelgue, entre outros.
Maca lançou três álbuns até agora. SEMILLAS (2013), o primeiro, com 13 músicas, BAMBÚ (2019) álbum triplo inspirado na força e flexibilidade desta planta, tem 18 canções ecléticas e conta com a participação de vozes notáveis convidadas, como Hilda Lizarazu, Paula Neder e Luciana Mocchi.
KALANCHOE, também lançado em 2019 depois de ter vencido a Bienal de Arte Jovem, apresenta sete canções originais realizadas sob a produção artística de Lucy Patané e com a participação de Lula Bertoldi e Nahuel Briones.
Em seus shows Maca Mona Mu incorpora a força e a sutileza de suas canções através da versatilidade de sua voz. Ela sintoniza com a emoção de cada espectador e manifesta, em um ato de coragem, seu coração a serviço da música. Sua presença de palco evidencia o frescor de sua criatividade, acompanhada por violão, ao piano, com um looper ou com uma banda, em qualquer formato suas canções têm vida própria, brilham, se invertem e se atualizam, gerando uma conexão profunda com o público.
Com seu estilo único, Maca Mona Mu dialoga com diferentes gêneros musicais que se cruzam e destacam sua identidade eclética, mas também carregada de raízes argentinas.
LATINESE
Amplificando a cultura da América do Sul e lembrando o Brasil do seu lugar no continente
Já são cinco anos desde que um trabalho para a disciplina de Intermidialidade da Universidade da Integração Latino-Americana se transformou em canal e projeto nacional, que já nasceu internacional. Começou com a missão simples, mas árdua, de garimpar, pesquisar e fazer curadoria de música dos 13 países do nosso continente, com extensão pelo Caribe. Vinícius Castro, criador do Latinese, é mestrando da Unila na linha de pesquisa: Fronteiras, Diásporas e Mediações e graduado em Letras, Artes e Mediação Cultural.
Dos posts indicando artistas e bandas novas e veteranas até a produção de clipes foram muitas lives, entrevistas, matérias, muitas conversas e sobretudo, muitas traduções e mediação cultural. Afinal, o maior desafio e a “alma” do Latinese é conectar não apenas idiomas, mas culturas e cosmovisões distintas, contextualizando países hispano falantes para brasileiros e ressignificando o estigma segregador e colonizador do Brasil com o continente.
O projeto Latinese busca através da iniciativa criar parcerias entre artistas do Brasil e demais países latino americanos na produção de unidades musicais que reivindiquem as ideologias inseridas em seus trabalhos como artistas individuais e independentes.
O processo de consolidação das parcerias está relacionado com um sistema elaborado pela gestão do projeto, onde a valorização dos aspectos educacionais são incorporados às produções e a própria narrativa do projeto. É a partir dessas compreensões ético-estéticas que se desenvolve o exercício da Mediação Cultural no projeto. Nessa perspectiva, a análise atenta da cosmovisão e identidades dos participantes, faz parte das estratégias metodológicas de pesquisa utilizadas pelo Latinese, para uma compreensão fiel aos valores entendidos pelas culturas envolvidas na produção.
Entendendo a educação não-formal sendo constituída de um conjunto de práticas e produções de saberes, que se materializam através de manifestações artísticas em suas variadas linguagens, busca-se então viabilizar essas cosmovisões a partir da produção integrada, ao passo em que a aproximação cultural não fragmenta os valores trabalhados individualmente por cada participante. Uma vez consolidadas as parcerias, o Latinese busca viabilizar as produções e difundi-las no território latino americano.
A meta é transformar o Latinese em um veículo potente da cultura sulamericana, reintegrando o Brasil e propondo novos movimentos e agências culturais. Ampliando o alcance e rompendo os limites impostos por grandes conglomerados de mídias e claro, a influência norte americana e européia que nos impedem tanto de valorizar nossa cultura, como conhecer outros países e, porque não dizer, mundos.