Entrevista: YOHAN traz provocações contemporâneas com o novo single “Dominatrixxx” e vislumbra projetos de atuação
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Yohan e Clementaum (Divulgação)
YOHAN começou 2025 com fogo nos olhos e misturou empoderamento feminino, liberdade sexual e crítica à masculinidade tóxica em seu novo single, “Dominatrixxx”. A faixa, inspirada pela amizade com Clementaum, também destaca a bissexualidade como um tema importante a ser discutido sem tabus. A colaboração com a produtora, eleita DJ do ano no WME by Billboard, reflete a busca do artista por liberdade criativa, ao mesmo tempo em que questiona normas tradicionais, como as impostas pela religião e pela sociedade.
Em entrevista ao Mais Brasil, o artista também fala sobre sua transição musical, destacando como a mudança de “Teu Jogo” para “Dominatrixxx” representa uma evolução pessoal, do sofrimento à libertação. Além disso, revela a influência de sua própria vivência, com um histórico familiar de mulheres fortes, no conceito de poder feminino que permeia sua música.
Em um tom descontraído, ele ainda menciona seu desejo de expandir sua atuação na indústria audiovisual, explorando mais o lado teatral e se preparando para novos projetos de atuação e roteiros, mantendo-se fiel à ideia de integrar música e performance visual.
“Dominatrixxx” é uma faixa que mistura temas poderosos de empoderamento feminino e liberdade sexual. O que inspirou você a explorar essas temáticas na sua música?
Uma das inspirações é a própria Clementaum, uma grande amiga e talento incrível. Ela transmite feminilidade, empoderamento e força, além de representar a bissexualidade, um tema ainda cercado de tabus. Muitos veem a bissexualidade como conveniência, mas acredito que vai muito além. É sobre evoluir e se permitir amar sem limitações.
Clementaum trouxe um lado performático à música. Como surgiu essa parceria e qual foi sua principal contribuição no processo criativo de “Dominatrixxx”?
Sim, Clementaum realmente se jogou na performance desse clipe. Acredito que tenha sido o primeiro dela como atriz e performer. Ela continua sendo ela, mas também interpreta um personagem, especialmente no início, como uma beata indo à igreja. Nossa parceria veio da amizade e da vontade de trabalhar juntos, algo que já queríamos desde a pandemia. Eu assumi toda a direção criativa, como sempre faço nos meus clipes e, às vezes, para outros artistas. Minha contribuição foi essa: concepção, direção criativa e garantindo que ela se sentisse à vontade no set.
A figura da dominatrix é central na faixa. O que ela simboliza para você e como essa personagem se relaciona com a sua própria visão sobre o empoderamento feminino?
Desde pequeno, sempre vi o poder das mulheres. Fui criado por uma mãe solo e cercado por mulheres fortes—minha mãe, avó, tia, primas e amigas. Percebi que o poder feminino é mais contido, mas muito mais eficaz no dia a dia. Diferente do homem, que muitas vezes o usa de forma egocêntrica. Para mim, a dominatrix representa esse poder, que vai além da sensualidade ou do sexo—é sobre se libertar de padrões impostos. Apesar da letra ser mais sensual, falando sobre relacionamento, também é uma crítica à masculinidade frágil e tóxica, aos caras que “se acham o tal” em qualquer circunstância e acreditam estar sempre no comando ou dominando.
A transição de “Teu Jogo” para “Dominatrixxx” é interessante, já que uma fala sobre relacionamento tóxico e a outra sobre libertação. O que você pode nos dizer sobre essa evolução na sua música?
É por isso que vez ou outra questiono o que o mercado da música virou. Singles avulsos não fazem sentido pra mim. Música é história, conceito. Em um mundo ideal, só lançaria álbuns, sem a pressão de lançamentos mensais. Deste jeito, a sequência dos meus singles seria mais clara para o público. Meu segundo EP, parte de uma trilogia, traz “Teu Jogo”, “Dominatrixxx” e uma faixa bônus, “Mente Mente”. Se lançado na ordem correta, mostraria um relacionamento do início ao fim: “Dominatrixxx” representa a fase da paixão e diversão, “Teu Jogo” vem logo após o término e a dor, e “Mente Mente” simboliza a superação. Além disso, a escolha de lançamento segue uma lógica sonora: “Teu Jogo” é uma balada romântica que não combinaria com o verão ou o Carnaval. E por isso saiu antes de “Dominatrixxx”, que tem um clima mais de pista e balada. Já “Mente Mente” traz uma pegada mais funkeada ainda, mais verão, algo que já venho incorporando na maioria das minhas músicas. Exceto nas baladas românticas, onde fica menos evidente, como fiz em “Flores”, por exemplo. O problema é que a estratégia de lançamentos nem sempre segue essa sequência ideal, já que fatores como agenda, época do ano e budget influenciam as escolhas. Desde o primeiro EP dessa trilogia, sigo essa lógica, mas nem sempre posso lançar as faixas exatamente como planejei.
Como foi a experiência de gravar o videoclipe em uma casa de dominação? Houve alguma situação que tenha sido particularmente desafiadora durante as gravações?
Gravar “Dominatrixxx” foi especial, mas teve seus desafios intensos. Primeiro, tivemos pouquíssimo tempo e zero possibilidade de ensaio. Era câmera rodando e a gente performando. Em cerca de 5 ou 6 horas filmamos tudo. Algumas ideias ficaram de fora, mas o resultado ficou incrível para um tempo recorde. Agora, a parte realmente desafiadora foi a dominação. Clementaum tinha que me chicotear, enforcar e golpear, mas sem parecer fraco demais e, ao mesmo tempo, sem me machucar de verdade. O problema? Ela tinha medo de me machucar. Eu a instigava: “Vai, bate forte, você tá me dominando”. Aí, quando ela finalmente ia com força, às vezes machucava mesmo. Mas eu segui firme, porque quando estou gravando um clipe, fico 100% entregue ao personagem. Foi desafiador, mas também muito divertido e gratificante!
O tema da religião é abordado no videoclipe de forma ousada. Qual foi o seu pensamento ao misturar simbolismos religiosos com temas de sexualidade e poder?
Quando pensei no conceito do clipe, eu sabia que precisava ir além do óbvio. Afinal, dominação, fetiche e sensualidade são essenciais, mas sozinhos? Eu queria algo mais artístico, que surpreendesse e fizesse o público refletir. E foi aí que veio a ideia: por que não transformar isso também em uma crítica? A letra já questiona o machismo e os padrões tradicionais, então eu trouxe essa mesma provocação para o visual. Pensei na hipocrisia que vemos na sociedade, especialmente dentro das religiões. O catolicismo, por exemplo, sempre condena os desejos mundanos, mas quem nunca escondeu ou reprimiu os seus? O clipe brinca com essa dualidade: a gente fala, promete, jura… mas, no fundo, o que realmente desejamos? No fim, não é só sobre religião, mas sobre a hipocrisia humana como um todo. Eu respeito todas as crenças, mas hipocrisia, julgamento e mentiras? Isso eu não aceito.
Você parece gostar de dar vida a personagens em seus clipes. Como você vê a conexão entre a música e a atuação? Existe alguma semelhança ou algo que você acredita que possa transferir de um universo para o outro?
Eu acredito que música e atuação são como o mar e a areia. Elas se completam de um jeito que não dá para separar. Já tentou assistir a um filme no mudo? Parece que perde a alma. E o contrário também acontece. Hoje em dia, a música quase sempre vem acompanhada de um clipe, um lyric video, algo visual que nos faz imaginar. Mesmo quando a gente anda por aí ouvindo música no fone, não é só o som. A gente vê a cidade, as pessoas, o mundo acontecendo, e a música transforma isso numa história, num filme mental. Essa troca de energia entre o que ouvimos e o que vemos faz com que as duas artes sejam inseparáveis. E talvez seja por isso que essa vontade de atuar esteja crescendo em mim. Muita gente da indústria tem me dito que eu deveria explorar esse lado mais teatral, já que gosto de dar vida aos meus personagens. E, sendo bem sincero, acho que faz todo sentido. Talvez eu já esteja atuando há muito tempo e só agora tenha me dado conta disso.
Você já tem algum tipo de preparação ou treinamento em atuação? É uma nova jornada que você está buscando?
Na adolescência meu sonho era ser ator. Acho que isso vem da minha mãe, que era atriz de teatro. Até participei de uma escolinha, mas nunca tive um treinamento formal ou imersivo. Acredito que a vida acabou me preparando. Como modelo, fui jogado na indústria e precisei aprender na prática. Cheguei a fazer comercial de TV. Afinal, modelar também é atuar de certa forma. Além disso, minha experiência com música há mais de 10 anos, performando, gravando clipes e criando personagens, me deu um grande repertório. Quando morava no Japão, trabalhei em um parque temático italiano como pirata em um navio que saía de Nagoya, animando passageiros com jogos de bingo. Agora, morando entre São Paulo e Los Angeles, quero investir mais nisso. Pretendo fazer cursos e treinamentos, especialmente em inglês, para expandir ainda mais. Estou bem empolgado e louco para fazer mais audições.
Você já tem algum projeto de atuação em mente ou está em busca de oportunidades? Se sim, poderia compartilhar mais detalhes sobre o que está planejando?
Estou finalizando o lançamento da trilogia de EPs, que deve ser concluída ainda este ano. Mas, em paralelo, jáestou pesquisando escolas de atuação e imersão em Los Angeles. Quero voltar a esse universo de TV, publicidade e comerciais. Sobre atuação, tenho dois projetos pessoais que escrevi e adoraria desenvolver. Claro, não é para agora. Afinal, nem ator de fato eu sou ainda. Mas já venho roteirizando minhas próprias séries e ficções, onde eu mesmo atuaria. De certa forma, é como dar vida à minha música de um jeito diferente.